20. Com toda investigação que fizemos até
agora, podemos então responder à primeira pergunta: “O que é a nossa essência?”,
pois esta é a essência de todos os reinos da Criação, que representam nada mais
nada menos que o desejo de receber.
Ocorre que somos um “desejo de receber prazer” criado pelo Criador.
Mas não do modo como nos é apresentado no
segundo estado (na sua
condição não corrigida, oposta à perfeição, e posterior a todos os estágios de
descida dos Mundos e Sefirot), sob a
forma de um desejo de receber para si mesmo (desejo egoísta), mas sim como se apresenta no primeiro
estado, na sua forma eterna no Mundo do Infinito, a de um desejo de doar para
agradar o Criador.
Mesmo que na realidade ainda não tenhamos
alcançado o terceiro estado (nas nossas sensações) e ainda
estejamos dentro dos limites do tempo (isto é, ainda galgando os níveis de
correção), isso de forma alguma diminui a
nossa essência (a pergunta é “o que é a nossa essência”. Estar em um estado
de imperfeição não diminui a nossa essência interior), pois o nosso terceiro estado (futuro) é garantido pela presença do
primeiro estado. Aquele que o receberá no futuro é semelhante àquele que já o
recebeu (se ele sabe exatamente o que recebeu e está absolutamente
confiante em relação ao seu estado futuro).
Se tivermos “fé”, isto é, um desejo de doar não egoísta, então
sentiremos previamente o nosso terceiro estado. Ele já estará brilhando sobre
nós de longe, mesmo em nossos estados não corrigidos, na medida em que a Ohr
Makif (a Luz Circundante) brilhar sobre nós.
Nesse caso, não teremos nenhum problema e não sentiremos nenhuma
imperfeição, mesmo no segundo estado, pois receberemos a luminosidade do nosso
terceiro estado posterior. É como uma pessoa que, com todas as
responsabilidades e tarefas que deve realizar durante o dia, espera
ansiosamente pelo fim do dia, quando então receberá algo extraordinário e
maravilhoso. Vivemos na antecipação do fim do dia. Confiamos que será algo
realmente especial, empolgante e esclarecedor, e o dia inteiro muda
completamente. Por quê? Porque isso somente acontecerá ao fim do dia. Assim,
antecipamos sobre nós esse estado futuro. Portanto, se pudermos ver uma parcela
do nosso próximo estado (o que somente é possível com a Luz Refletida), ele já
brilhará sobre nós hoje, e sentiremos como se já estivéssemos nessa Luz.
É muito frequente que quando a pessoa é controlada pelos seus desejos
egoístas a antecipação de um estado melhor seja muito mais poderosa do que
quando ele é alcançado de fato. Isso ocorre porque a antecipação é causada pela
Luz Circundante, não limitada pelos nossos Kelim, desejos. Ela é ilimitada
porque recebemos essa Luz de longe e não de dentro dos nossos Kelim, ela vem de
fora e nos circunda. Ela é semelhante à Luz do Infinito e, portanto, a antecipação
desse estado é sempre muito melhor e excitante que sua sensação real.
Por isso, mesmo agora podemos viver no terceiro estado (ainda que
estejamos no segundo) ao receber a sua luminosidade, mas isso só é possível se
tivermos Luz Refletida. Baal HaSulam diz que, por mais que não tenhamos
alcançado o terceiro estado e ainda estejamos limitados pelas barreiras do
tempo, nossa essência de modo algum é diminuída por isso, pois o terceiro
estado futuro nos é garantido pelo primeiro estado atual. E aquele que receberá
no futuro é semelhante àquele que já o recebeu.
O fator temporal torna-se um problema quando a
pessoa tem dúvidas (isto é,
quando lhe falta fé) se conseguirá
cumprir tudo o que deve cumprir neste período de tempo. Uma vez que a pessoa alcança
tal estado quando não tem mais dúvidas, é como se ela já estivesse no terceiro
estado.
Então, qual é a nossa tarefa hoje? Qual é a coisa mais importante a
fazer? Precisamos imediatamente sentir o Infinito, a Eternidade, o estado de
recebimento e onipresença absolutos. Com isso, a vida e a morte do corpo
tornam-se irrelevantes. Tudo depende de adquirirmos as qualidades de Biná (fé).
Assim que isso ocorre, a Luz do terceiro estado brilha sobre nós.
O corpo mau (nossos desejos não corrigidos)
que recebemos no presente não diminui a nossa essência, pois o corpo, com tudo
o que adquiriu, desaparecerá junto com a sua fonte - o sistema de Forças
Impuras. O corpo que desaparece é semelhante àquele que já desapareceu, como se
nunca tivesse existido.
É assim que o Criador se apresenta a partir do nível seguinte, e se
nos elevamos acima desse nível e olhamos à nossa frente, então o egoísmo
desaparece e o estado perfeito começa a brilhar sobre nós.
Entretanto, a essência da alma vestida no
corpo é apenas o desejo de doar, que tem sua raiz no sistema dos quatro mundos
puros: Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá. Esse desejo é eterno, pois ele é a
propriedade da Fonte da Vida. Ele é invariável e, por isso, eterno.
O Criador criou, de cima para baixo, o desejo de receber prazer. Esse
desejo de receber é o desejo de senti-Lo. Se o Criador é a Luz, então o desejo
de receber é o desejo de sentir essa Luz.
Esse desejo não é bom nem ruim, mas é a essência da Criação. Devido à
quebra dos vasos, ele recebeu de Biná a intenção de como utilizar esse desejo:
apenas para si mesmo ou pelo Criador. Essa superestrutura aparece acima do
desejo. Portanto, existem: o desejo, a Luz ou a Fonte da Luz (o Criador), e as
intenções de como utilizar esse desejo. E isso é tudo.
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