sexta-feira, 24 de julho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (81)



39. Já demonstramos que o propósito do Criador é dar prazer às suas Criaturas, para que elas conheçam Sua autenticidade e grandeza, e recebam todos os prazeres e bondade que Ele preparou para elas. Nós ainda não compreendemos Seu objetivo, mas gradualmente ele irá transparecer. Isso fica mais claro para os cabalistas, em nome de quem Baal HaSulam fala. Eles recebem o objetivo, o significado e o resultado final de toda a Criação.

Depois disso, nós (isto é, os cabalistas) claramente descobrimos que o objetivo não se aplica ao mineral e aos grandes planetas, tais como a Terra, a Lua ou o Sol, independente de quão luminosos eles sejam.

As intenções do Criador também não se referem aos níveis vegetal ou animal da natureza (embora eles tenham certo tipo de vida biológica), pois neles falta a sensação dos outros (eles não podem desenvolver isso nem no seu próprio nível, muito menos no superior).

A eles falta a sensação dos outros, de ciúme, de inveja, de prazeres verdadeiros, mesmo do tipo mineral. Os animais não sentem prazer. Tudo o que eles fazem é ordenado pelos seus instintos interiores. Por serem incapazes de absorver o desejo dos outros, eles naturalmente também não conseguem desfrutar os prazeres dos outros. Um animal pode estar com ou sem fome, mas ele não consegue ter fome ao ver outro animal com fome.

Mesmo em um nível animal primitivo, os desejos não são transferíveis, quanto mais o desejo de receber um nível espiritual maior, que não existe em nós inicialmente. Suponha que eu não faça ideia do que significa ser um cientista, um professor ou um ator. Entretanto, eu os vejo e percebo como eles gostam do que fazem, então eu desejo ser como eles. Com a ajuda da “Kinah, Ta'avah ve Kavod” (inveja, anseio por prazeres e o desejo por honra e fama), eu adquiro dos outros os gostos que são totalmente desconhecidos para mim. Dessa forma, meu Kli, meu desejo, pode crescer constantemente, e eu posso desenvolvê-lo no nosso mundo ao absorver todos os desejos existentes no Universo e também no nível espiritual. É como uma situação hipotética em que, a partir de certas ações, uma planta pudesse tornar-se um animal ou um animal em um homem. Entretanto, apenas os homens podem ascender ao nível Divino. Isso é possível, pois a raiz dessa propriedade está presente em nós - a sensação de outro ser humano - e está ausente nos corpos minerais, vegetais e animais.

Nascemos apenas com nossos desejos animais, instintos puramente animais que existiam nos povos primitivos. Estes são nossos desejos corporais por prazeres naturais tais como comida, sexo, casa e família. Além disso, como resultado da inveja, o homem desenvolve o desejo de receber algo que outra pessoa tem, mesmo que ele não precise daquilo de fato. Mesmo que eu tenha tudo aquilo que meu coração deseja, mas há alguém que sinta prazer com outra coisa, então eu desejo receber este prazer também.

Por fim, os desejos por prazer e honra me dão prazer porque sinto a submissão e o respeito das pessoas. Estas são as aspirações máximas do homem neste mundo. Não importa que eu não tenha isso à minha disposição, me agrada a forma como as pessoas me tratam. Isso me deixa maior, mais significante.

A inveja, o anseio por prazeres e o desejo de fama e reconhecimento desenvolvem o homem de tal forma que lhe possibilita anexar o egoísmo adicional dos outros ao seu próprio e começar a avançar espiritualmente.

O homem não recebe seus desejos apenas no nível deste mundo. Ele tem um “Ponto no coração”, o desejo espiritual egoísta. Em hebraico, ele é chamado de “Achoraim de Nefesh de Kedushá”. Este é o desejo egoísta no nível superior. Eu passo a desejar controlar esse nível Superior, o Criador. Eu desejo que Ele faça o que eu quero. O recebimento não é limitado pelos desejos deste mundo, o processo continua nos Mundos Superiores. Sempre meu nível Superior inicia com o meu desejo de escravizar o Criador.

Quando eu descubro Suas propriedades e gradualmente revelo Sua perfeição, isso me transforma de tal maneira que eu já desejo que Ele me escravize, que escravize o meu egoísmo. Eu desejo que Ele me transfira Suas propriedades para que eu as absorva e me torne semelhante a Ele.

Entretanto, tudo começa com grandes desejos egoístas. Assim, diz-se que: “Aquele que é maior que o outro tem desejos egoístas maiores”. Não precisamos ter medo disso.

Portanto, alguns meses antes da pessoa começar a estudar Cabalá, ela percebe que, de repente, seu egoísmo cresceu. Por exemplo, ela nunca antes havia sonhado com milhões de dólares e, de repente, ela percebe o que é a paixão pelo dinheiro. Ela nunca antes havia pensado em honra e reconhecimento, pois para que ela precisaria disso e de quem? De outras criaturas de duas pernas? Ainda assim, de repente, ela começa a desejar isso, ela deseja que as pessoas prestem atenção nela. Uma pessoa que sempre foi moderada em seus instintos animais (comida e sexo), de repente, perde a compostura. Isso se torna seu obstáculo interior, e que nunca antes havia sido um problema.

Tudo o que ocorre à pessoa no processo do seu crescimento espiritual é baseado no desenvolvimento do egoísmo. O Talmud Babilônico diz que, desde a destruição do Templo (quando caímos espiritualmente ao nível deste mundo), o verdadeiro gosto pelo sexo, assim como os desejos egoístas genuínos (“Sexo” sendo o centro dos nossos prazeres animais), apenas podem ser desfrutados por aqueles que aspiram o Mundo Superior. Devemos corrigir o egoísmo adicional para avançar espiritualmente.

Ao perceber que o desejo do Criador, o objetivo da criação, é doar prazer aos seres criados, vemos claramente que esse objetivo não se refere nem aos corpos minerais nem aos grandes planetas, já que eles não têm a sensação dos outros. E também não se refere às plantas ou aos animais do nosso mundo, pois a eles também falta essa sensação. Como eles poderiam sentir a bondade do Criador se eles não conseguem sentir nem a sua própria espécie?

Quando nos desenvolvemos e alcançamos o nível espiritual chamado “Homem”, isto é, quando o nosso egoísmo está tão desenvolvido que queremos muito mais que os outros, começamos a invejá-los e desejar o que quer que eles tenham, ainda que, inicialmente, não sentíssemos tais desejos. Invejamos seus prazeres, honra, fama, e desejamos conquistar o mundo inteiro. Isso se chama “O verdadeiro homem”. Ele ainda não está corrigido, mas já está pronto para isso, pois ele já tem o que corrigir.

Só o homem, depois de ter sido preparado com a sensação de outros que sejam como ele, depois de mergulhar na Torá e nos Mandamentos, seu desejo de receber (egoísta, o enorme desejo adquirido de fora) se transformará no desejo de doar, e chegará à Equivalência de Forma com o seu Fazedor. Então ele alcança os níveis que haviam sido preparados para ele nos Mundos Superiores. Esse é o caminho pelo qual ascendemos aos Mundos Superiores.

À medida que recebemos porções adicionais de egoísmo (da linha da esquerda), começamos a corrigi-lo com o auxílio da Luz Superior ao elevar um pedido (mandamento) e receber a Torá (a Luz da Correção) de Cima. A correção ocorre com a ajuda da linha da direita, a Luz descendente. Assim, criamos a linha do meio. Nosso egoísmo da linha da esquerda torna-se semelhante às propriedades do Criador da linha da direita.

Nos construímos no intervalo entre as duas linhas, enquanto recebemos o NaRaNHaY em todos os 120 níveis da nossa subida ao Mundo do Infinito. O NaRaNHaY do Mundo do Infinito é chamado de Luz da Torá, sendo que suas partes durante os estágios preliminares entre o nosso nível e o Mundo do Infinito são chamados de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá. Enquanto subimos os cinco mundos, recebemos a Luz de Nefesh no Mundo de Assyiá, a Luz de Ruach no Mundo de Yetzirá, a Luz de Neshamá no Mundo de Beriá, a Luz de Chayá no Mundo de Atzilut e a Luz de Yechidá no Mundo de Adam Kadmon.

Conforme subimos do Mundo de AK ao Mundo do Infinito, somos simplesmente incluídos na Luz Comum já mencionada, não do NaRaNHaY, mas da Torá. Nela, não há distinções nem nuances, apenas a Luz Perfeita.

Assim, ao nos elevarmo do nosso mundo ao Mundo do Infinito, atravessamos os seguintes níveis: Primeiro, o “secreto”; depois, o “alegórico”; então o “índício”; e, por fim, o da “simplicidade”. Eles são chamados PaRDeS - Pshat, Remez, Dresh e Sod. O Pshat é a Luz mais Simples do Mundo do Infinito, o Dresh (a Luz dos Mundos de AK e Atzilut) está abaixo dele, então o Remez é como um indício no Mundo de Beriá e Yetzirá; e o Sod, no Mundo de Assiyá, e no nosso mundo, é o segredo, a Luz Oculta, que não sentimos nem compreendemos.

Portanto, o recebimento do PaRDeS ocorre em ordem reversa (de baixo para cima). Isto é o que o Gaon de Vilna diz no seu livro de orações: “O PaRDeS constitui-se de quatro níveis diferentes de recebimento. Primeiro, um conhecimento simples, depois um pouco mais profundo, então mais profundo ainda e, por fim, um conhecimento muito profundo”.

É assim que, aparentemente, recebemos o PaRDeS, mas na verdade só estudamos mecanicamente o que está escrito no livro, ficando dentro das fronteiras de um simples aprendizado do texto no nível do nosso mundo. Em verdade, o recebimento do PaRDeS, isto é, da Torá do Mundo do Infinito, é simples como a Luz que lá brilha, pois mesmo o NaRaNHaY torna-se uma Luz Simples naquele nível.

Aqui, Baal HaSulam diz que as pessoas comuns que estudam a Torá acham que tudo é estudado no nosso nível, e que conhecer as Leis do Universo não requer elevação espiritual. Ele chama essas pessoas de “filósofos” ou de “Baalei Battim” (donos da casa), ou, às vezes, de “falsos sábios”.


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