O Mundo de Atzilut é absolutamente espiritual,
pois nele o Kli não é sentido: ele se
encontra totalmente suprimido pela Luz, formando um todo único com ela.
Considera-se que as almas dos outros seres criados, a dos animais, por exemplo,
que descem de cima pelo Mundo de Atzilut,
também estão unificadas com o Criador. Entretanto, em nosso mundo, os seres
criados não possuem qualquer Luz, e estão infinitamente distantes do Criador.
Os Mundos são níveis de aproximação do Criador durante a ascensão
do homem, e a medida de distanciamento Dele durante a descida das almas. Não
vem ao caso sobre quais tipos de almas estamos falando. Ainda que toda a
natureza seja uma coisa só, alguns tipos de seres criados, que se diferenciam
pelo grau do seu livre arbítrio, podem ser identificados como mais ou menos
livres na escolha do Objetivo.
De todos os seres criados, apenas o homem possui o verdadeiro
livre arbítrio, e o restante da natureza ascende ou descende com ele, pois tudo
em nosso Universo está relacionado ao homem. É impossível falar sobre um número
determinado de almas que passam por esse caminho, pois é difícil ter uma
quantidade estimada.
Faíscas de outras almas mais fortes e mais elevadas podem surgir
em cada um de nós. Elas começam a se manifestar em nós e a nos impulsionar. Na
verdade, a alma não é algo pré-determinado e permanente, algo que acompanha
nosso corpo psicológico durante toda a sua vida biológica. Por exemplo, em seu
livro Shaar Ha Gilgulim, o Ari
descreve os tipos de almas e em que sequência elas enraízam-se nele.
A alma não é indivisível. Ela funde-se e separa-se continuamente,
cria novas partes de acordo com as exigências da correção da Alma Comum. Mesmo
durante a vida do homem, algumas das partes da alma enraízam-se nele ou partem
dele, as almas "confluem" constantemente umas nas outras.
O Mundo de Beriá corresponde à fase Beit-Biná, o "desejo de doar",
de agradar. O Kli do Mundo de Beriá é chamado de "Neshamá": pela primeira vez, ele
possui o seu próprio desejo, que é o "desejo de doar". Com isso, ele
é muito "claro" e não egoísta em seus desejos, e é considerado
absolutamente espiritual.
O Mundo de Yetzirá corresponde à fase Guímel-Tiferet, ou ZA, na qual emergem tanto o "desejo de doar" (cerca de
90%) quanto o "desejo de receber" (cerca de 10%). Existe um pouco da
Luz de Chochmá sobre o fundo luminoso
da Ohr Chassadim. Nessa fase, o Kli passa do estado de Neshamá para o estado de Ruach. Ainda que, em certa medida, os
desejos do Kli já sejam egoístas, o
"desejo de doar" prevalece mesmo assim. Portanto, o Kli do Mundo de Yetzirá ainda é praticamente espiritual.
A fase completamente egoísta, Malchut,
que é a quarta fase, governa o Mundo de Assiyá. Ali, o "desejo de
receber" é o próprio Guf
(corpo), que está totalmente afastado do Criador. A Luz que preenche o Kli no Mundo de Assiyá é chamada de "Nefesh".
Esse nome sugere que o Kli e a Luz
são ambos espiritualmente estáticos, como a natureza inanimada do nosso Mundo.
O Kli torna-se cada vez mais
grosseiro à medida que desce através dos níveis dos Mundos e afasta-se da Luz,
até esvaziar-se por completo, isto é, até não sentir mais a Luz. Portanto, ele
se torna totalmente independente da Luz e do Criador nos seus pensamentos e
ações.
Entretanto, se o próprio Kli
preferir o caminho do desenvolvimento espiritual ao dos
"pequenos" prazeres egoístas, pouco a pouco ele será capaz de
ascender através dos níveis dos Mundos de Assiyá,
Yetzirá, Beriá, Atzilut e Adam Kadmon e chegar ao Mundo do
Infinito, ou seja, fundir-se infinitamente no Criador, tornar-se equivalente a
Ele.
Cada pessoa possui o assim chamado "ponto negro" no
coração, um embrião do estado espiritual futuro. Em pessoas diferentes, esse
ponto encontra-se em níveis diferentes de preparação para a percepção
espiritual. Existem pessoas que são totalmente incapazes de compreender
quaisquer noções espirituais, elas não se interessam por isso. Entretanto, há
outras que despertam subitamente e ficam intrigadas com o fato de que, de
repente, passaram a se interessar por esses assuntos "abstratos".
Da mesma forma que os outros animais, o homem vive sob a
influência dos seus pais, do seu ambiente e de traços de caráter. Por não ter
livre arbítrio, ele apenas processa a informação disponível de acordo com
fatores externos e internos, e então, realiza as ações que lhe parecem mais
adequadas.
Mesmo assim, tudo muda quando o Criador começa a despertar o
homem. A pessoa desperta devido à influência de uma pequena porção de Luz que o
Criador lhe envia previamente. Ao receber essa porção, o seu ponto interior
começa a exigir um preenchimento extra, obrigando-a a buscar a Luz. Assim, ela
começa a buscá-la em diversas atividades, ideias, filosofias, doutrinas, grupos
de estudo, até chegar na Cabalá. Cada alma na Terra deve fazer o mesmo
percurso.
Até que o seu ponto negro atinja, com o auxílio da tela, o tamanho
de um pequeno Partzuf, considera-se
que o homem não tenha uma alma ou Kli
e, naturalmente, nenhuma Luz em si mesmo. A presença de um Partzuf espiritual, mesmo o menor deles, que tenha as Luzes de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá (NaRaNHaY), indica o nascimento do homem e sua evolução do estado
animal (que, a propósito, costumamos chamar de humano).
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