quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (10f)

 

O Mundo de Atzilut é absolutamente espiritual, pois nele o Kli não é sentido: ele se encontra totalmente suprimido pela Luz, formando um todo único com ela. Considera-se que as almas dos outros seres criados, a dos animais, por exemplo, que descem de cima pelo Mundo de Atzilut, também estão unificadas com o Criador. Entretanto, em nosso mundo, os seres criados não possuem qualquer Luz, e estão infinitamente distantes do Criador.

 

Os Mundos são níveis de aproximação do Criador durante a ascensão do homem, e a medida de distanciamento Dele durante a descida das almas. Não vem ao caso sobre quais tipos de almas estamos falando. Ainda que toda a natureza seja uma coisa só, alguns tipos de seres criados, que se diferenciam pelo grau do seu livre arbítrio, podem ser identificados como mais ou menos livres na escolha do Objetivo.

 

De todos os seres criados, apenas o homem possui o verdadeiro livre arbítrio, e o restante da natureza ascende ou descende com ele, pois tudo em nosso Universo está relacionado ao homem. É impossível falar sobre um número determinado de almas que passam por esse caminho, pois é difícil ter uma quantidade estimada.

 

Faíscas de outras almas mais fortes e mais elevadas podem surgir em cada um de nós. Elas começam a se manifestar em nós e a nos impulsionar. Na verdade, a alma não é algo pré-determinado e permanente, algo que acompanha nosso corpo psicológico durante toda a sua vida biológica. Por exemplo, em seu livro Shaar Ha Gilgulim, o Ari descreve os tipos de almas e em que sequência elas enraízam-se nele.

 

A alma não é indivisível. Ela funde-se e separa-se continuamente, cria novas partes de acordo com as exigências da correção da Alma Comum. Mesmo durante a vida do homem, algumas das partes da alma enraízam-se nele ou partem dele, as almas "confluem" constantemente umas nas outras.

 

O Mundo de Beriá corresponde à fase Beit-Biná, o "desejo de doar", de agradar. O Kli do Mundo de Beriá é chamado de "Neshamá": pela primeira vez, ele possui o seu próprio desejo, que é o "desejo de doar". Com isso, ele é muito "claro" e não egoísta em seus desejos, e é considerado absolutamente espiritual.

 

O Mundo de Yetzirá corresponde à fase Guímel-Tiferet, ou ZA, na qual emergem tanto o "desejo de doar" (cerca de 90%) quanto o "desejo de receber" (cerca de 10%). Existe um pouco da Luz de Chochmá sobre o fundo luminoso da Ohr Chassadim. Nessa fase, o Kli passa do estado de Neshamá para o estado de Ruach. Ainda que, em certa medida, os desejos do Kli já sejam egoístas, o "desejo de doar" prevalece mesmo assim. Portanto, o Kli do Mundo de Yetzirá ainda é praticamente espiritual.

 

A fase completamente egoísta, Malchut, que é a quarta fase, governa o Mundo de Assiyá. Ali, o "desejo de receber" é o próprio Guf (corpo), que está totalmente afastado do Criador. A Luz que preenche o Kli no Mundo de Assiyá é chamada de "Nefesh". Esse nome sugere que o Kli e a Luz são ambos espiritualmente estáticos, como a natureza inanimada do nosso Mundo. O Kli torna-se cada vez mais grosseiro à medida que desce através dos níveis dos Mundos e afasta-se da Luz, até esvaziar-se por completo, isto é, até não sentir mais a Luz. Portanto, ele se torna totalmente independente da Luz e do Criador nos seus pensamentos e ações.

 

Entretanto, se o próprio Kli preferir o caminho do desenvolvimento espiritual ao dos "pequenos" prazeres egoístas, pouco a pouco ele será capaz de ascender através dos níveis dos Mundos de Assiyá, Yetzirá, Beriá, Atzilut e Adam Kadmon e chegar ao Mundo do Infinito, ou seja, fundir-se infinitamente no Criador, tornar-se equivalente a Ele.

 

Cada pessoa possui o assim chamado "ponto negro" no coração, um embrião do estado espiritual futuro. Em pessoas diferentes, esse ponto encontra-se em níveis diferentes de preparação para a percepção espiritual. Existem pessoas que são totalmente incapazes de compreender quaisquer noções espirituais, elas não se interessam por isso. Entretanto, há outras que despertam subitamente e ficam intrigadas com o fato de que, de repente, passaram a se interessar por esses assuntos "abstratos".

 

Da mesma forma que os outros animais, o homem vive sob a influência dos seus pais, do seu ambiente e de traços de caráter. Por não ter livre arbítrio, ele apenas processa a informação disponível de acordo com fatores externos e internos, e então, realiza as ações que lhe parecem mais adequadas.

 

Mesmo assim, tudo muda quando o Criador começa a despertar o homem. A pessoa desperta devido à influência de uma pequena porção de Luz que o Criador lhe envia previamente. Ao receber essa porção, o seu ponto interior começa a exigir um preenchimento extra, obrigando-a a buscar a Luz. Assim, ela começa a buscá-la em diversas atividades, ideias, filosofias, doutrinas, grupos de estudo, até chegar na Cabalá. Cada alma na Terra deve fazer o mesmo percurso.

 

Até que o seu ponto negro atinja, com o auxílio da tela, o tamanho de um pequeno Partzuf, considera-se que o homem não tenha uma alma ou Kli e, naturalmente, nenhuma Luz em si mesmo. A presença de um Partzuf espiritual, mesmo o menor deles, que tenha as Luzes de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá (NaRaNHaY), indica o nascimento do homem e sua evolução do estado animal (que, a propósito, costumamos chamar de humano).

 

 

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