Além de si mesmo
Tua percepção do Mundo Superior, o Mundo do Porvir, varia
conforme teu estado espiritual presente. Para os cabalistas, o Mundo Superior é
o grau seguinte que uma pessoa pode alcançar. No princípio, nossa percepção do
Mundo Superior está latente. Dado que as nossas qualidades são opostas às
qualidades do Criador, somente podemos perceber o mundo material no qual
vivemos neste exato momento. Nesse estado, tudo o que acreditamos que seja o
Mundo Espiritual é apenas fruto da nossa imaginação.
Não obstante, uma vez que adquirimos a primeira qualidade
espiritual, o primeiro raio de altruísmo, também ganhamos a capacidade de ver o
mundo espiritual tal como ele é. Os cabalistas chamam a esse evento de “cruzar
a barreira”. Uma vez que cruzamos a barreira, já não necessitamos que um mestre
nos guie, porque nesse estado já estamos sob a direção consciente do Criador.
Na maioria dos casos, os cabalistas continuam seus estudos
com um mestre, mesmo depois de terem atravessado a barreira, mas a relação
entre eles muda drasticamente. O mestre já não precisa guiar uma pessoa cega
pela mão. Ao contrário, agora, ambos caminham juntos por uma rota encantada de
descobrimentos.
Lá, além da barreira, o estudante aprende através da
observação e utiliza as novas ferramentas de observação que agora refina e
melhora. Esse modus operandi se conhece como “a alma da pessoa lhe
ensinará”. Yehuda Ashlag a descreve numa carta a um aluno como o processo de
ver um amigo aproximar-se à distância. Imaginas que vês uma pessoa muito longe
de ti. Primeiro, nem estás seguro de que se trata mesmo de uma pessoa, é mais
como um ponto escuro. Depois, aparecem as características básicas: a cabeça, o
tronco, os braços, as pernas. Quando a pessoa se aproxima um pouco mais podes
ver se é um homem ou uma mulher, e, depois de um pouco mais de tempo, poderás
distinguir os traços do rosto da pessoa, e aí já poderás reconhecer o teu
amigo.
Ao aprendermos a transcender o nosso egoísmo, é importante
compreender como se mede a percepção. Cada sentido tem uma ferramenta de
medição interna que opera de uma forma simples.
No caminho: Biná significa “compreensão”. Na Kabbalah, esse
termo normalmente se refere à contemplação das relações de causa e efeito e da
benevolência. Também é o exemplo da qualidade altruísta do Criador em nosso
interior. Portanto, Biná é nosso mestre espiritual interior. Essa é a razão
pela qual Biná também é conhecida como Ima (mãe).
Pensa num tímpano. O mecanismo de audição reage a algo exterior
e trabalha da mesma forma que a força exterior, mas em direção oposta, ao
pressionar o retorno desde dentro. Assim, se mentem em equilíbrio e te permite
medir, neste caso, o volume e tom do som. Aqui está a chave: para que ocorra
esse tipo de percepção, deve haver alguma força unificadora entre quem percebe
e o objeto de percepção. No caso do tímpano, o liame comum poderia ser a onda
de som necessária para que nós escutemos.
Mas qual é a força unificadora que pode vincular nossa
percepção com o Criador? Será que precisamos de um “tímpano” para colocá-lo
sobre nosso sexto sentido, e que tivesse a mesma qualidade que nos brinda o
nosso Criador? Bem, esse “tímpano” existe e é a intenção, ou Kavaná,
apresentada no capítulo 2. Qualquer coisa que faças com a intenção honesta
de dar se considera “outorgar” em espiritualidade. O problema espiritual é
detectar onde está a tua intenção de receber e convertê-la numa intenção de
outorgar. Aqui é que o mestre, o grupo de amigos e os livros nos ajudam.
Através dos cinco sentidos percebemos o estímulo externo, não
como ele é em realidade, mas como aprendemos a interpretá-lo. Assim, se
adquirimos qualidades espirituais podemos começar a perceber novos mundos ao
nosso redor e começaremos a obter uma imagem mais clara da verdadeira forma do
Criador até que, no último nível de elevação, o percebemos em Sua totalidade.
No caminho: Durante o nosso Ascenso espiritual podemos chegar a
reconhecer que o Criador nos deu a condição da escuridão para nos incentivar a
desenvolver a necessidade de Sua ajuda e para nos acercarmos mais Dele. O
princípio espiritual é simples: se consideramos o nosso estado de ser como
obscuro e desagradável, e o estado de ser do Criador como luminoso e
prazenteiro, então desejaremos estar Nele. Essa é a razão pela qual o processo
que experimentamos além da barreira se chama “reconhecimento do mal”, quando
definimos nosso estado de ser como mau (para nós mesmos). Se considerarmos
nosso estado como mau por completo e Seu estado como desejável por completo,
cruzaremos a barreira. Esta é a condição para se entrar no mundo espiritual do
Criador.
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