terça-feira, 25 de maio de 2021

Kabbalah Sem Segredos (37)


Além de si mesmo

 

Tua percepção do Mundo Superior, o Mundo do Porvir, varia conforme teu estado espiritual presente. Para os cabalistas, o Mundo Superior é o grau seguinte que uma pessoa pode alcançar. No princípio, nossa percepção do Mundo Superior está latente. Dado que as nossas qualidades são opostas às qualidades do Criador, somente podemos perceber o mundo material no qual vivemos neste exato momento. Nesse estado, tudo o que acreditamos que seja o Mundo Espiritual é apenas fruto da nossa imaginação.

 

Não obstante, uma vez que adquirimos a primeira qualidade espiritual, o primeiro raio de altruísmo, também ganhamos a capacidade de ver o mundo espiritual tal como ele é. Os cabalistas chamam a esse evento de “cruzar a barreira”. Uma vez que cruzamos a barreira, já não necessitamos que um mestre nos guie, porque nesse estado já estamos sob a direção consciente do Criador.

 

Na maioria dos casos, os cabalistas continuam seus estudos com um mestre, mesmo depois de terem atravessado a barreira, mas a relação entre eles muda drasticamente. O mestre já não precisa guiar uma pessoa cega pela mão. Ao contrário, agora, ambos caminham juntos por uma rota encantada de descobrimentos.

 

Lá, além da barreira, o estudante aprende através da observação e utiliza as novas ferramentas de observação que agora refina e melhora. Esse modus operandi se conhece como “a alma da pessoa lhe ensinará”. Yehuda Ashlag a descreve numa carta a um aluno como o processo de ver um amigo aproximar-se à distância. Imaginas que vês uma pessoa muito longe de ti. Primeiro, nem estás seguro de que se trata mesmo de uma pessoa, é mais como um ponto escuro. Depois, aparecem as características básicas: a cabeça, o tronco, os braços, as pernas. Quando a pessoa se aproxima um pouco mais podes ver se é um homem ou uma mulher, e, depois de um pouco mais de tempo, poderás distinguir os traços do rosto da pessoa, e aí já poderás reconhecer o teu amigo.

 

Ao aprendermos a transcender o nosso egoísmo, é importante compreender como se mede a percepção. Cada sentido tem uma ferramenta de medição interna que opera de uma forma simples.

 

No caminho: Biná significa “compreensão”. Na Kabbalah, esse termo normalmente se refere à contemplação das relações de causa e efeito e da benevolência. Também é o exemplo da qualidade altruísta do Criador em nosso interior. Portanto, Biná é nosso mestre espiritual interior. Essa é a razão pela qual Biná também é conhecida como Ima (mãe). 

 

Pensa num tímpano. O mecanismo de audição reage a algo exterior e trabalha da mesma forma que a força exterior, mas em direção oposta, ao pressionar o retorno desde dentro. Assim, se mentem em equilíbrio e te permite medir, neste caso, o volume e tom do som. Aqui está a chave: para que ocorra esse tipo de percepção, deve haver alguma força unificadora entre quem percebe e o objeto de percepção. No caso do tímpano, o liame comum poderia ser a onda de som necessária para que nós escutemos.  

 

Mas qual é a força unificadora que pode vincular nossa percepção com o Criador? Será que precisamos de um “tímpano” para colocá-lo sobre nosso sexto sentido, e que tivesse a mesma qualidade que nos brinda o nosso Criador? Bem, esse “tímpano” existe e é a intenção, ou Kavaná, apresentada no capítulo 2. Qualquer coisa que faças com a intenção honesta de dar se considera “outorgar” em espiritualidade. O problema espiritual é detectar onde está a tua intenção de receber e convertê-la numa intenção de outorgar. Aqui é que o mestre, o grupo de amigos e os livros nos ajudam.

 

Através dos cinco sentidos percebemos o estímulo externo, não como ele é em realidade, mas como aprendemos a interpretá-lo. Assim, se adquirimos qualidades espirituais podemos começar a perceber novos mundos ao nosso redor e começaremos a obter uma imagem mais clara da verdadeira forma do Criador até que, no último nível de elevação, o percebemos em Sua totalidade.

 

No caminho: Durante o nosso Ascenso espiritual podemos chegar a reconhecer que o Criador nos deu a condição da escuridão para nos incentivar a desenvolver a necessidade de Sua ajuda e para nos acercarmos mais Dele. O princípio espiritual é simples: se consideramos o nosso estado de ser como obscuro e desagradável, e o estado de ser do Criador como luminoso e prazenteiro, então desejaremos estar Nele. Essa é a razão pela qual o processo que experimentamos além da barreira se chama “reconhecimento do mal”, quando definimos nosso estado de ser como mau (para nós mesmos). Se considerarmos nosso estado como mau por completo e Seu estado como desejável por completo, cruzaremos a barreira. Esta é a condição para se entrar no mundo espiritual do Criador.

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