domingo, 20 de maio de 2018

Tiul (12)


Noite de domingo, final da Festa de Shavuot. Fomos à Torre de David, na Cidade Velha, para ver um show de som e luzes.



Um milhão de palavras não seriam capazes de descrever uma única imagem do que vi.



Tente descrever, em palavras, o olhar do teu pai no dia em que saíste de casa. Ou o teu semblante no espelho no dia em que decidiste desistir de um casamento, de uma amizade, de uma viagem. Tente descrever um sapato numa escada. Uma cadeira vazia ao lado de uma cama num quarto gelado. Tente descrever o vôo de uma pomba. Tente descrever alguma coisa, qualquer coisa, e vais descobrir que a essência da coisa te escapou. Escrevi e publiquei mais de quarenta livros para tentar descrever uma imagem, uma única imagem, e não consegui. No entanto, dentro de mim, no fundo de mim, lá onde nenhum ser humano consegue penetrar, a imagem fulgura, e somente eu posso acessá-la e posso revê-la quando eu quiser.



As imagens que vi, hoje à noite, na Torre de David, e que contaram, em 30 minutos, a história dessa cidade pesada, em que religiosos judeus, cristãos e muçulmanos se esforçam para parecer aos outros mais religiosos que os outros, jamais sairão da minha memória, esse meu relicário particular de imagens. O clima das ruínas internas da Torre de David, as pessoas do mundo todo, sentadas para ver o espetáculo, os membros do Grupo Kadosh, o rabino Saltoun e os amigos e amigas de Brasília, do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Suíça que nos acompanham, jamais sairão das minhas sinapses, das imagens internas que produzi a partir das imagens externas projetadas nas paredes de pedra da antiga fortaleza militar. Nas imagens externas, toda a história de Jerusalém foi contada, de forma poética e dolorosa, a destruição do templo, as cruzadas, o império grego, o império romano, o império otomano. Nas minhas imagens internas, a história do Universo foi contada.



Ontem, Erdogan, presidente da Turquia, reuniu 57 países muçulmanos para formarem um Exército do Islã com o propósito abertamente declarado de cercar e destruir Jerusalém.



Por quê?



Por que todos os malucos do mundo, como eu e alguns outros, vem para cá, alguns para construir e outros para destruir? Por que sobre os céus de Jerusalém estão em guerra eterna os Malachim e os Shedim? O que há aqui que borbulha, como uma chaleira de água quente? O que há aqui que faz a gente trepidar, prestes a sofrer, novamente, o Shevirat Kelim?



Os cabalistas sabem o que há aqui, mas ninguém lhes pergunta o por quê... E por que não perguntam? Porque a resposta dói, a resposta dói profundamente, e depois de ouvi-la, um ser humano perde a inocência, como Adão e Eva perderam a inocência depois que comeram do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

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