quarta-feira, 29 de julho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (86)



44. Antes dos “treze anos de idade” (um nível relativo no desenvolvimento do homem) não existe qualquer percepção do ponto no seu coração. Entretanto, depois dos “treze anos”, quando ele começa a aprofundar-se na Cabalá, mesmo sem a intenção pelo Criador (isto é, sem qualquer amor ou temor, como deve ocorrer a alguém que serve ao Rei), mesmo que não seja Em Seu Nome, o ponto no seu coração começa a crescer e a revelar sua ação.

O homem que começa a sentir um desejo pelo Mundo Espiritual é considerado adulto. A partir disso, bem ou mal, ele começa a desenvolver o ponto no seu coração, pois esse desejo prevalece sobre os outros. Ele experimenta de todas as formas até encontrar um grupo, um livro e um professor. O ponto no coração o leva ao local, à fonte que pode satisfazê-lo. Nós acreditamos que isso ocorre por acaso, mas não é.

Contudo, o homem deve checar constantemente a fonte da qual ele recebe. Eu aconselho a todos vocês, sentados na frente do monitor, não confiem em mim, provem por si mesmos onde vocês estão. Talvez vocês encontrem uma companhia melhor, um professor mais sábio que lhes dará uma influência mais poderosa e os conduzirá ao Propósito da Criação. Essa é a nossa tarefa principal. O restante é uma ferramenta para atingir o objetivo.

Você não deve ter nenhuma outra imagem diante dos seus olhos exceto a do Criador. Você deve dizer a si mesmo: “Para alcançá-Lo, estou pronto para ouvir um homem sábio, ler alguns livros, estar na companhia de algumas pessoas, fazer um sacrifício, etc. O Criador deve estar constantemente à minha frente, somente Ele deve determinar o que eu faço”.

Esse é o desenvolvimento correto do ponto no coração. Mesmo se meu desejo pelo Criador for egoísta, eu ainda aspiro por Ele e nada mais. De forma alguma devo juntar-me a alguém para me sentir mais seguro e confortável.

Certa vez, perguntei ao meu professor: “Como posso ter certeza de que estou no lugar certo? Tenho apenas uma vida, então quero fazer tudo o que tiver que fazer por mim mesmo”. A sua resposta foi bem simples: “Continue procurando. Esse é o seu livre arbítrio”.

O livre arbítrio está em uma busca constante pelo grupo correto. Somente depois de ter experimentado tudo, você pode começar a trabalhar no seu desenvolvimento. Você é obrigado a fazê-lo porque seu futuro depende do seu ambiente, dos seus livros e professores. Não confie em nada, você deve checar tudo, pois é somente dessa forma que você pode crescer. A menos que você se esforce dentro do grupo, a menos que você tente deixá-lo mais forte, você não será capaz de crescer.

A realização do meu livre arbítrio consiste em exercer influência no professor, nos livros, no grupo e, consequentemente, na Luz Circundante, para que ela me desenvolva. Se o homem relaxa e deseja abrigar-se nas asas de alguma pessoa sábia, algum Rabi, ela se confina ao nível mineral e pára de crescer. Tente evitar esses desejos, embora o nosso corpo o queira muito. Devemos nos forçar a nos livrar deles a cada segundo e realizar o nosso livre arbítrio. Dessa forma, apenas encurtaremos o período da nossa correção, pois todos os níveis são pré-determinados. Não alcançaremos o nível seguinte até que tenhamos corrigido o nível atual.

Mesmo que o homem estude Cabalá sem qualquer intenção pelo Criador, o ponto no seu coração começa a se desenvolver.

Isso é o que sentimos parcialmente, e esperamos que ele continue a se desenvolver. As ações realizadas até aqui pelo cabalista iniciante não exigem intenções. O homem sempre age conforme determinada intenção - a intenção egoísta para si mesmo. Entretanto, no que diz respeito ao espiritual, essas ações são consideradas sem intenção. Podemos influenciar algo no Mundo Espiritual apenas de acordo com nossa intenção altruísta. Portanto, no início do nosso desenvolvimento, mesmo uma intenção egoísta é boa o suficiente. É importante ter um enorme desejo de conquistar o Mundo Espiritual e o Criador, mesmo que este desejo seja egoísta.

Na página 70 do seu livro “Pri Hacham”, Baal HaSulam diz em uma das cartas que: “Essa sensação deve ser semelhante a de um homem inundado de paixão pela sua amada. Ele não consegue ver nem ouvir qualquer coisa, essa paixão preenche todo o seu mundo, ele… perde a cabeça”. Em hebraico, isso se chama  “metoraf” (loucura). Não há qualquer outro prazer que possa preencher esse Kli vazio.

É exatamente este estado ao qual precisamos chegar em relação ao Criador. Apenas Ele pode preencher meus vasos, e eu não desejo nada mais. Esse é o nível final deste mundo, depois do qual passamos para o Mundo Espiritual.

O homem purifica e corrige o nível mineral do seu desejo egoísta…

Isso é o que fazemos hoje. Não sabemos nada neste nível. Não conseguimos ver a diferença entre os elementos. Eles são imóveis. Como resultado, passamos por todas as 613 partes do ponto no coração. Na verdade, ele consiste de 620 partes, mas concordamos que existem 613 partes em cada órgão Espiritual, Casca e Partzuf, tanto na estrutura geral de Adam como em cada uma das suas partes individuais. Não importa sobre o que falamos, se são os cinco estágios, as 10 Sefirot ou as 613 partes. Não pode haver nem mais nem menos do que isso.

Na medida em que o homem aspira ao Criador, ele purifica a parte mineral do desejo de receber. Ele constrói os 613 órgãos do ponto no coração, que são o nível mineral da alma pura. Quando todas as 613 ações, chamadas Mandamentos, estão completas, ele cria os 613 órgãos (as partes corrigidas) do ponto no coração, que é a parte mineral da alma corporal.

Imaginemos um grande coração egoísta com um pequeno ponto, que consiste de 613 desejos. Devo desenvolvê-los ao máximo e então direcioná-los ao Criador. Eu não conheço e nem compreendo qualquer um desses 613 desejos do coração. Eu não sinto diferença entre eles, pois esses desejos são do nível mineral. Entretanto, isso não é importante. Como um corpo mineral, eu automaticamente aspiro ao Criador com a minha vontade.

Duzentos e quarenta e oito órgãos espirituais são construídos através do cumprimento de 248 ações de “faça” (preceitos que você deve cumprir), e seus 365 órgãos espirituais são construídos através do cumprimento de 365 preceitos de “não faça”, até que eles se tornem um Partzuf completo de Nefesh pura.

O que isso significa? Eu tenho um Partzuf que consiste de duas partes, 248 e 365, e que, ao todo, somam 613.

As duzentas e quarenta e oito ações, das 613 que realizo com meus desejos, são aquelas com cujo auxílio eu posso agir. Basicamente, essas são minhas ações no grupo, com todas as pessoas, amigos e família, os desejos através dos quais eu posso me expressar e me realizar.

Entretanto, existem ações nas quais eu não posso me realizar. Eu não faço ideia de como trabalhar com elas corretamente. Estes não são desejos simples como os de matar ou de roubar, mas são todos os meus desejos que, sob nenhum aspecto, eu consigo conectar com o espiritual.

Esse é um processo natural. Não devemos pensar: “Agora, eu desejo alguma coisa, então como devo lidar com esse desejo, satisfazê-lo ou refreá-lo?” Quando eu aspiro ao Criador no nível do meu ponto no coração, eu ainda não tenho as definições interiores e não consigo fazer essa análise interna, pois isso não é necessário neste momento. Consequentemente, meu nível é definido como mineral. Ainda não recebi Luz de Cima o suficiente para quebrar meu ponto em 613 pequenas partes onde eu sei quais propriedades cada uma delas representa, e que elas estão conectadas ao Criador. Eu ainda não sou capaz de fazer isso. Entretanto, quando o fizer… “meu nível de Nefesh eleva-se e veste Malchut do Mundo Espiritual de Assyiá”.

Abaixo desse nível dos Mundos Espirituais, dentro do meu coração (o coração são todos os nossos desejos, e você não deve, sob hipótese alguma, imaginar um coração biológico) emerge o Partzuf (meu desejo pelo Criador como algo distinto das aspirações deste mundo). Se eu aspiro ao Criador, eu me elevo para o nível de Malchut do Mundo de Assiyá no primeiro nível mineral.

Todos os mundos formam uma linha descendente (“Kav”). “Kav” é a linha da Luz que descende do Mundo do Infinito até este mundo. Quando o meu Partzuf está completo, ele se eleva e se “veste” de Cima até Malchut do Mundo de Assiyá, na Luz que lá se encontra.

Em outras palavras, minha alma “vestiu-se” nessa linha na qual os Anjos, as Vestimentas, e os Palácios a revestem. Eles são acrescentados, pois existem os desejos auxiliares que realizei a fim de ascender a este nível particular.

Todas as partes espirituais dos níveis mineral, vegetal e animal do mundo, que correspondem à Sefirá de Malchut de Assiyá, servem e auxiliam a alma do homem que se elevou até lá. Na medida em que a Nefesh (a alma, o primeiro nível) os utiliza, eles tornam-se o alimento espiritual para ela…

Todos esses Palácios, Vestimentas e Anjos são os nossos desejos, exceto pela aspiração pelo Criador. Eles são desejos do nosso mundo que fortalecem meu desejo pelo Criador. Mesmo obstáculos, como um chefe carrasco ou problemas com os filhos, tudo o que está ao meu redor nesse mundo são influências positivas e negativas que aspiram junto comigo e “vestem” minha alma em Malchut do Mundo de Assiyá.

Isso significa que se eu realizo uma ação espiritual e há pessoas que me ajudaram a fazê-la, então, quando ascendo a determinado nível espiritual, todos aqueles que me ajudaram, “vestem-se” em mim nas suas propriedades internas e recebem Luz. Essa recepção é ainda inconsciente porque elas ainda não prepararam seu Kli espiritual interior. Entretanto, elas participam do processo. Isso é o que torna tão importante a conexão entre as pessoas do mundo. Através de ajuda mútua, comunicação e troca, nosso mundo agora se torna uma pequena comunidade. O mundo, da forma como existe em relação ao homem que se eleva, eleva-se junto com ele e penetra as Vestimentas de Malchut do Mundo de Assyiá e, depois, ainda regiões espirituais mais altas.

Na medida em que a Nefesh os utiliza (os desejos auxiliares: os Palácios, as Vestimentas e os Anjos), eles lhe dão força para crescer e multiplicar-se até que possa expandir a Sefirá de Malchut de Assyiá para brilhar no corpo humano. Essa Luz completa auxilia o homem a adicionar ainda mais trabalho em Cabalá e receber os Níveis Superiores restantes.

Simultaneamente ao nascimento do corpo do homem, um ponto da Luz de Nefesh também nasce e veste-se nele, o mesmo ocorre aqui, quando o Partzuf de “Nefesh Pura” nasce. Um ponto de um Nível Superior nasce com ele, ou seja, o último degrau da Luz de Ruach de Assiyá, e preenche as partes internas do Partzuf de Nefesh.

Assim que ascendemos a este Mundo, ao invés dele, o que permanece? A próxima etapa forma o que chamamos de Partzuf “nu” - o próximo ponto no coração. Ele mudou e se dividiu em 613 partes. Esse segundo ponto no coração não é de Aviut Shoresh (0). A fim de ascender e vestir-se em Malchut, ele precisa ter Aviut Aleph (1). Isso ocorre porque, na medida em que os Partzufim emergem, um sempre nasce dentro do outro e, depois de completar seu próprio desenvolvimento, impulsiona o próximo depois dele, semelhante à construção de uma grinalda.

Portanto, assim que o Partzuf Nefesh completa sua ascensão e veste-se em Malchut do Mundo de Assiyá, nesse mesmo instante o ponto do Partzuf seguinte surge e começa a impulsionar todo esse processo. Assim como os vagões de um trem movem-se um atrás do outro, o ponto do Partzuf seguinte impulsiona-os ao Nível do Infinito. Esse é um movimento ascendente, pois o homem deve alcançar o Mundo do Infinito enquanto ainda vive neste mundo - no seu corpo, com seu coração e com o ponto dentro dele.

Aqui, eu gostaria de terminar essa lição e novamente lembrá-lo que devemos nos unir. Isso poupará muito tempo e esforço no nosso avanço. Nenhum de nós será capaz de obter individualmente o que podemos obter coletivamente. O crescimento do nosso grupo em 10% encurta nosso caminho em muitos meses. À medida que crescemos adequadamente, e os membros do grupo aprendem a compreender uns aos outros, mesmo pessoas muito diferentes terão muito o que falar. Saberemos como avançar juntos ao Criador.

No processo de leitura do Livro do Zohar, a pessoa adquire a percepção do Mundo Superior. De qualquer forma, ler este livro cria os pré-requisitos interiores, os Kelim, através dos quais começamos a sentir o que não conseguíamos sentir antes, algo que parecia não existir em nós, mas que agora se torna real. Aquilo que não conseguíamos perceber com nossos sentidos, de repente, entra no nosso campo de sensibilidade, e o mundo começa a se abrir, mostrando-se pouco a pouco, como uma fotografia analógica, até que penetramos na totalidade desse mundo comum. O Livro do Zohar faz isso conosco. O “Introdução ao Livro do Zohar” nos ajuda a compreender por quais estágios devemos passar.

A concepção de um Partzuf ocorre de tal modo que existe um Partzuf superior, metade do qual está acima da Parsá (o assim chamado GE), e a outra metade (AHP) está abaixo da Parsá. Nós, as almas partidas, os Kelim partidos (Kelim Shevurim) estamos abaixo da Parsá. Podemos elevar todos os AHP. Para onde? Para mim. O seu Partzuf Superior sou eu. Eleve todos os seus desejos comigo e, através de mim, chegue até GE. Você pode ver claramente quão importante é para nós unirmo-nos e agarrarmos o AHP cujo GE está acima da Parsá, acima da Maschom.

Esse mundo abaixo é onde estamos e onde o AHP do Partzuf inferior existe junto com vocês, e de certa forma eu o represento para vocês. Juntos, podemos nos conectar ao GE, à parte superior, e assim sermos capazes de ascender.

Quanto mais nos unirmos para incluir esses desejos ao AHP, quanto mais eu lhe sinto, para que os seus desejos elevem-se através de mim até o Criador, mais seremos capazes de agir. Esse é o sentido de unificarmos todos os grupos do mundo. Devemos criar um grande desejo cumulativo equivalente ao que chamamos de MAN, um pedido ao Partzuf Superior, que não pode recusá-lo.

Com isso, vemos que não há razão por que nos conectarmos com pessoas cujo GE não está no Mundo Superior; assim, vemos o quanto todos precisamos participar no mesmo processo de unir todos os nossos desejos em um, e único, desejo pelo Criador.

Já dissemos que o homem passa por um determinado período do seu desenvolvimento chamado de “13 anos”. Este é um período em que a aspiração pelo Criador ainda não despertou nele. Então, segue-se o período de desenvolvimento espiritual consciente, quando uma pessoa começa a sentir um ponto no coração; portanto, nosso estado é chamado de “13 anos” ou “chegando à fase adulta”.

Por que 13 anos? Enquanto estudamos os Partzufim do Mundo de Atzilut, descobrimos que existem 13 correções da barba (Yud Gimel Tikunei Dikna”) dos Partzufim Superiores. Há um Partzuf Superior chamado Arich Anpin (AA), de cuja Cabeça a Luz desce ao longo do Cabelo e da Barba. Por que “ao longo da barba?” Porque no que se refere a AA, a barba constitui o Partzuf externo. AA está em GAR, uma Luz muito poderosa. A Luz desce ao longo do seu Partzuf externo e, então, é enfraquecida para que os que estão abaixo possam aceitá-la e utilizá-la corretamente para o seu crescimento, sem causar dano a si mesmos.

Tal Partzuf, chamado Se'arot, é uma parte de AA. Recebemos a Luz Superior através dele, ao que ele se transforma em nós, e nos ajuda a crescer. Portanto, os primeiros 13 anos do nosso desenvolvimento, os primeiros 13 passos Espirituais são considerados anos de desenvolvimento inconsciente, assim como ocorre às crianças. Então, amadurecemos e começamos a crescer conscientemente. A Luz que recebemos é Ohr Nefesh do Mundo de Assiyá. Sobre isso que Baal HaSulam escreve no tópico 45.


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