terça-feira, 3 de maio de 2022

Carta de um Sábio (1)

 

 

Carta de um sábio (1)

1920

 

Ao meu amigo X, que ele viva uma vida longa e boa.

 

É meio-dia e eu recebi sua carta do oitavo dia do primeiro mês, e suas reclamações contra mim são como uma oração aceita, como está escrito no Zohar.

 

Eu já provei a você em minhas cartas anteriores que, enquanto você me repreende por não lhe escrever, é o seu abatimento que deve ser repreendido. Observe que, desde o sétimo dia de Shevat [mês hebreu próximo a Fevereiro] até o oitavo de Nissan, ou seja mais de dois meses, você não me escreveu uma palavra em mais de dois meses, enquanto eu te escrevi quatro cartas nesse período.

 

E se este punhado ainda sacia o leão, como está escrito, “pois quem está altamente colocado tem o superior que o vigia; e há mais altos do que eles” (Eclesiastes 5:8). E como resposta que ele firmemente exige, eu devo responder que todo mundo acredita na Providência Privada, mas não adere a ela de maneira alguma.

A razão é que um pensamento estranho e tolo não pode ser atribuído ao Criador, que é o epítome do “Bom que pratica o bem”. Entretanto, apenas aos verdadeiros trabalhadores de Deus o conhecimento da Providência Privada está aberto, que Ele causou todas as razões que a precederam, tanto boas quanto más. Então elas são coesas com a Providência Privada, pois todos aqueles que estão conectados à pureza são puros.

 

Desde que o Guardião esteja unido com seu protegido, não há uma divisão aparente entre o bem e o mal. Eles são todos amados e puros, pois todos eles são os carregadores dos vasos de Deus, prontos a glorificar a Revelação de Sua unicidade. É conhecido pelo instinto, e a esta medida eles têm conhecimento do fim que todas as ações e pensamentos, ambos bons ou maus, são todos carregadores dos vasos de Deus. Ele os preparou, de Sua boca eles vieram, e no Gmar HaTikun (Fim da Correção) serão conhecidos por todos.

 

Entretanto, neste intervalo está um longo e ameaçador exílio. O

principal problema é que quando alguém vê alguma ação injusta, ele cai de seu degrau (e se agarra a uma mentira notável se esquecendo que ele é como um machado na mão de um lenhador). Pelo contrário, ele se julga como se fosse o responsável pelo ato e esquece a razão para todas as consequências de quem tudo vem, e que não há outro operador no mundo senão Ele.

 

Esta é a lição. Embora a pessoa saiba disto primeiramente, ainda,

quando for preciso, ela não controla este estado de consciência e une tudo com a causa, a qual sentencia a uma escala de mérito. Esta é a resposta completa à sua carta.

 

Eu já te dei face a face uma verdadeira parábola sobre esses dois conceitos, onde um ensina ao outro. Porém, a força da ocultação domina neste intervalo, como nossos sábios disseram sobre os dois coringas perante o Rabi, que divertiam todos aqueles que estavam tristes.

 

Há uma parábola sobre um rei que se afeiçoou tanto ao seu servo ao ponto de desejar colocá-lo acima de todos os ministros, por ter reconhecido no seu coração um amor resoluto e verdadeiro.

 

Entretanto, não é um comportamento da realeza elevar alguém ao mais alto nível de uma vez só sem uma razão aparente. Pelo contrário, o comportamento da realeza é revelar as razões para todos com grande sabedoria.

 

O que ele fez? Ele nomeou o servo como um guarda no portão da cidade, e disse ao ministro que fosse um coringa esperto e fingisse se rebelar contra a realeza e que guerreasse para conquistar a casa enquanto o guarda estivesse despreparado. O ministro fez como o rei ordenou, e com grande sabedoria e astúcia fingiu lutar contra a casa do rei. O servo arriscou sua vida e salvou o rei, lutando devotada e bravamente contra o ministro, até que seu grande amor pelo rei se tornasse evidente a todos.

 

Então o servo tirou as suas roupas, e houve muito riso (pois ele tinha lutado tão ferozmente e agora percebia que era tudo ficção, não realidade). Eles riram mais quando o servo contou das profundezas das imaginações de sua crueldade e o medo que ele tinha sentido. Todo ponto nesta terrível guerra se tornou um motivo de riso e de grande alegria.

 

Entretanto, ele ainda era um servo, e sem escolaridade. Como ele poderia ser promovido acima de todos os ministros e servos do rei?

 

Então o rei pensou em seu coração, e disse ao servo que ele

deveria se disfarçar como um ladrão e um assassino, e guerrear ferozmente. O rei sabia que numa segunda guerra ele mostraria sabedoria maravilhosa e mérito, permanecendo como líder de todos os ministros.

 

Consequentemente, ele designou o servo como responsável pelo tesouro do reino. O ministro então vestido como um implacável assassino veio saquear os tesouros do rei.

 

O pobre designado para o cargo lutou intrépida e devotadamente até não poder mais. Então o ministro tirou suas roupas e houve uma grande alegria e risadas no palácio do rei, ainda mais do que antes.

 

Os detalhes das trapaças do ministro levantaram muitas gargalhadas, visto que o ministro teria que ser mais esperto do que antes porque agora era evidentemente conhecido que ninguém era cruel no domínio do rei, e todos os que pareciam cruéis eram apenas brincalhões. Assim, o ministro usou de muita astúcia para adquirir roupas do mal. Nesse meio tempo, o servo herdou “sabedoria” do pós conhecimento, e “amor” da pré-ciência, e então foi erguido pela eternidade. É verdade, todas as guerras naquele exílio são vistas como maravilhosas, e todos sabem no seu íntimo que tudo é uma espécie de imaginação e alegria que traz apenas coisas boas. Ainda assim, não há nenhuma tática para aliviar o peso da guerra e da ameaça em si mesma.

 

Eu tenho falado sobre isso longamente com você face a face, e agora você tem conhecimento de um dos finais desta parábola, e com a ajuda de Deus você também entenderá o outro final.

A coisa mais importante que você quer saber é aquela sobre a qual não posso responder nada. Eu também te contei uma parábola sobre isso face a face, pois “o reino da terra é como o reino no céu”, e a orientação verdadeira é dada somente aos ministros.

 

Entretanto, tudo está sendo feito de acordo com o conselho do rei e de sua assinatura. O rei, pessoalmente, não faz nada além de assinar o plano que os seus ministros executam. Se ele encontra uma falha no plano, ele não o corrige, mas coloca outro ministro em seu lugar, e o primeiro renuncia a seu ofício. Assim é o homem: um pequeno mundo se comportando de acordo com as letras impressas nele, visto que reis governam as setenta nações nele. Este é o significado do que está escrito no Sefer Yetzirá (Livro da Formação): “Ele coroou uma determinada letra”.

 

Cada letra é um ministro para o momento, fazendo avaliações, e o Rei do mundo as conta. Quando uma letra erra em algum plano, imediatamente renuncia ao cargo, e Ele coroa outra letra em seu lugar. Este é o significado de: “Cada geração e seus juízes”. No Gmar HaTikún (Fim da Correção), aquela letra chamada Messias irá governar. Isto complementará e unirá todas as gerações a uma coroa de glória na mão de Deus.

 

Agora você é capaz de entender como eu posso interferir com o seu negócio de estado, que nós já (...), e cada um deve descobrir o que foi designado a descobrir. A barca da Unificação (…) ele não deseja corrigi-los; entretanto, eu irei corrigi-los. E assim, tudo ficará claro através das encarnações.

 

Por causa disso, eu anseio ouvir todas as suas decisões em detalhes. Isto porque existe uma profunda sabedoria em cada

detalhe, e se eu tiver ouvido algumas de suas ordens fixadas, eu seria capaz de cumpri-las e deliciar seu coração.

 

Saiba que é muito difícil para mim ouvir o seu idioma, pois você não tem permanência nos nomes e em seus significados. Consequentemente, eu abrirei a porta para você no significado dos nomes, e você irá medir para mim o parecer da sua sabedoria. Desta maneira, eu serei capaz de acompanhar sua intenção.

 

Por essa razão, eu irei colocar as apelações que tenho visto em todas as suas cartas, para estabelecer entre nós permanentemente, e para saber que tudo que você escreve sem qualquer análise são como sinais em jarras de vinho.

 

Nós podemos começar pela raiz de todas as raízes, e chegar ao final. Cinco degraus são marcados em geral: Yechidá, Chaiá, Neshamá, Ruach e Néfesh. Todos são colocados juntos em um corpo corrigido.

 

Yechidá, Chaiá e Neshamá estão acima do tempo, apesar de

estarem no coração da criatura. Eles são considerados circundantes de longe. Elas não vêm no corpo durante a sua correção. Pela sua fonte oculta há uma raiz discernida: Rosh, Toch e Sof (respectivamente: Cabeça, Interior e Fim).

 

O Rosh é a raiz de Yechidá: é Ein Sof (Infinito). Aqui, mesmo em seu próprio lugar, sua Luz é encoberta e tudo é anulado como uma vela em frente a uma tocha.

 

Subsequentemente, a raiz de Toch, e é a raiz para Chaiá. Este é o

significado da Luz de Ein Sof, ou seja, o aparecimento de Sua Luz completa.

 

Enquanto isso, essa Luz é alcançada apenas como sustento, é chamada “raiz para Chaiá”. Após isso, a raiz para o Sof, e é a raiz para as almas. É assim como no início, Ein Sof. Aqui, um Véu Superior se espalha, e o tempo começa na forma de “seis milênios o mundo existe, e um é destruído”. Isto se chama

Ruach e Nefesh e suas raízes são aderidas à Neshamá. No entanto, eles também expandem abaixo como Torá, que é o

espírito da vida, e Mitzvá (mandamento), que é a Nefesh. Esta Nefesh é a permanência, imobilidade, a força que abraça e fortalece o corpo num estado permanente pelas forças das mulheres impressas nesta Nefesh.

 

Essa Ruach sopra o espírito da vida e a Luz da Torá na imagem da

fêmea. Sua raiz explica o significado de “e soprou em suas narinas o sopro da vida; e o homem se tornou uma alma vivente”. Isto se refere ao espírito que se eleva para a alma, trazendo esta vida à alma, que neste momento é

chamada de “alma vivente”.

 

Esta é também a ordem em todos os Zivugim (acasalamentos) das sete fêmeas de Rosh, e as duas abaixo da Nefesh. Este é o significado de “Deus coloca os solitários em casa”, ou seja, quando a força das fêmeas aparece, por “Quão gloriosa é a filha do rei no interior do palácio”.

 

As principais correções e o trabalho consistem em revelar as forças da alma, que o Zohar chama de “O Mundo Superior”. Isto também pertence à força oculta como a raiz do fim, e qualquer acasalamento é para o aparecimento de uma Luz na realidade do Mundo Superior. Este é o significado de “Nós cujos filhos são como as plantas crescidas na mocidade”, ou seja, a concepção no Mundo Superior. Até a união (...) aos inferiores (...), por isso veio ao Seu pensamento, e o fim do início da fonte oculta será

completado com todas as Luzes (...), uma continuação do livro Tesouro do Conhecimento.

 

A mente é a essência da alma do homem, e todo o homem. Isto

por que nela ele está totalmente definido, e o que vem de fora são suas roupas e os que servem a ele. Alguns são seus ramos, e outros são considerados estranhos a ele.

 

Esta força, embora seja sua alma, ele ainda não a vê; está oculta de qualquer coisa viva. Não questione sobre isso, pois o olho controla e é o mais importante entre todos os sentidos. No entanto, a pessoa nunca vê a si mesma, mas apenas sente sua própria existência. A visão não teria acrescentado nenhum conhecimento, e assim, nada foi criado em vão, por que são sensações para eles, e não há necessidade de se adicionar nada à

sensação.

 

Há também a capacidade mental, que é a essência do homem. Não é dada em qualquer discernimento nos sentidos, já que a sensação de sua existência é mais do que suficiente, e nenhuma pessoa será suficiente em sua própria existência e exigirá testemunho para seus sentidos. (A razão é que não há nenhum sentimento sem movimento, ou seja, que algumas vezes a sensação para e não há nenhum movimento n’Ele, por

isso é mais parecido com uma consciência absoluta).

 

É um erro grave assemelhar a forma da essência da mente a uma forma de conceito entendido na diminuição feita pelo olho da mente. Isto é mentira absoluta, pois esse conceito é como uma Luz que emerge e opera. Sua Luz é sentida enquanto estiver ativo, até o fim de suas ações, e então, a Luz desaparece. Disto você aprende que o conceito, sentido enquanto ativo, é apenas

um pequeno e frágil ramo deste. (A sensação essencial é considerada conhecimento, pois o poder de sentir é também um sentido, uma consequência, e não precisa do sentimento essencial). Não se parece em nada com a essência, nem em quantidade, nem em qualidade, é como uma pedra batida que mostra centelhas de Luz que são renovadas pela força abrangente na pedra, embora na forma da força abrangente nela não exista nenhuma Luz. Também, a essência da mente é a

força geral do homem, e vários ramos derivam dela, como no heroísmo e no poder, no calor e na Luz, de acordo com as leis da ação operada.

 

Embora nos refiramos a ela como a “alma da mente”, ou a “essência da alma”, isto é porque a mente é também um ramo da mesma, a mais importante, uma vez que “Se é enaltecido segundo a sua mente”. Visto que ninguém pode dar o que não tem, deste modo nós o definimos como mente, ou seja, nada menos que um sentimento sentido pela mente, pois ele é um ramo e uma parte dela. Ele reina sobre todos os ramos e os engole, como uma vela em frente a uma tocha. A mente não

se conecta em qualquer ação, mas as várias ações se conectam e se tornam fixas na mente.

 

Uma pessoa compreende que toda a realidade não é mais do que seus servos, tanto em disciplina, quanto de modo a melhorá-la, porque todos estão perdidos, enquanto a mente evolui em geral. Por isso, todas as nossas relações são apenas nas condutas da mente e as suas ambições, e mais do que isso não é necessário.

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